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Lí um artigo muito interessante de Christian Dunker no UOL (recomendado pelo Jonas Boni, muito obrigado 😊 — Tagueamento ) . Nele, Christian faz uma avaliação do mundo dominado por Tags. Ou seja, baseado em rótulos, características, etc. Objetos e pessoas são rotuladas e os lojistas estariam buscando o match. Ou seja, ofereceriam os produtos baseados no que sabem do produto e do potencial consumidor.
A parte social e antropológica da coisa, tendo a concordar com a crítica de Dunker. Grupos de pessoas que se recusam (seja por serem estrangeiros, serem por apenas não gostarem do mundo digital) a fornecer dados, passam a ter um tratamento de “segundo” nível. Não seria algo proposital, mas, por ter menos dados sobre o consumidor, os empreendimentos tendem a errar mais no que oferecem. E, com automação de postos de trabalho, existem menos pessoas para atender este grupo “off-line”. Para saber mais, dêem uma olhada no artigo do Christian.
Agora, isso tudo se aplica numa escala bem menor nos sistemas de Inteligência Artificial atuais. Hoje, estamos numa transição entre os sistemas de classificação para os sistemas generativos. Como este é um texto para psicanalistas, vou tentar me conter o máximo possível da parte técnica de Inteligência Artificial para tornar o conteúdo o mais palatável possível.
No passado (e talvez em boa parte dos sistemas ainda existentes… Pois a IA ainda está amadurecendo nas corporações…), tínhamos um conjunto de rótulos associados a um produto e um conjunto de rótulos associados ao consumidor. A forma de criar estes rótulos era extremamente precárias, poderia ser uma pessoa especialista (alguém que era especialista em vinho e dizia quais os rótulos daquela garrafa de vinho) ou, por processos estatísticos (conte quantas vezes a palavra azedo aparece na descrição daquela fruta e se for maior que 10, atribua o rótulo ‘azedo’ — o que era pior ainda…).
Com o advento da IA Generativa, tudo isso está mudando. Ainda é possível usar a IA para agrupar e classificar objetos e pessoas. No entanto, esse, para mim, não é o objetivo dos sistemas atuais. Para entender melhor a IA atual, vamos relembra Platão.
Platão propôs o “Mundo das Ideias”. Esta é uma parte central de sua filosofia. Ele diz que, existe um lugar onde todas as ideias coexistem em um mundo perfeito e imutável. Nossa alma passaria por este mundo e viria para o nosso. Então, o aprendizado aqui em nosso mundo “real” não seriam mais do que a lembrança do que, em algum momento, teríamos visto no “Mundo das ideias”.
O que a IA está mostrando é que Platão pode estar certo. Vou precisar de um pouco de imaginação aqui para não usar termos técnicos. Imagine que existem múltiplos mundos de ideias em um multiverso (sim, estamos falando de múltiplas dimensões, a maior parte das IAs hoje usa mais de 256 dimensões para definir qualquer palavra — e estas são as pequenas… O GPT usa mais de 1000 dimensões ).
Cada um destes mundos de ideias está em uma folha de papel, neles, as ideias estão organizadas de forma aleatória. Por exemplo, em um mundo, todos os vinhos estão no canto direito, em outro mundo, tem informação sobre vinho pra todo lado, distribuídos de forma extremamente caótica. Então, quando treinamos a IA, estamos, de fato, escolhendo qual destes mundos ela deve usar para encontrar as suas respostas. Quando encontramos um mundo em que ela consegue responder as perguntas que fazemos, elas está pronta para ser usada.
Agora, vamos às tags. Como disse, este mundo de ideias tem todas as informações existentes sobre tudo que existe, existiu ou ainda vai existir. Sei que é quase impossível imaginar isso, mas, Platão já imaginou isso há centenas de anos e nem calculadora tinha naquela época 😊 Então, acho que vocês também podem.
Da mesma forma do mundo com os vinhos organizados existe, vai existir um destes mundos onde todo o conhecimento do Christian Dunker, do Jonas Boni ou o seu está catalogado e organizado. Então, ao coletar dados hoje, não estamos mais buscando quantas vezes o Christian escreveu sobre a França. Estamos procurando onde existe um mundo de ideias que contenha tudo que o Christian já escreveu até hoje e que estejam mais ou menos agrupados no mesmo lugar. Ao achar isso, vamos encontrar tudo que o Christian já escreveu e, por tabela, tudo que ele poderia ter escrito sobre qualquer assunto. Na realidade, encontramos o “Mundo Christian Dunker“. Assim, os novos sistemas de IA não vão mais taguear ninguém. Eles vão encontrar a sua “representação digital” e perguntar pra esta representação “qual é o vinho que você gosta?” , “O que acha sobre às olimpíadas?”, etc.
A questão dos dados continua. Quanto mais dados dermos para a IA, mais próximo ela vai chegar do mundo real do que te representa. No entanto, como Lacan mesmo dizia, seria impensável encontrar o mundo “Real” de C. Dunker ou de quem quer que fosse pois, somos sujeitos partidos, a nossa subjetividade ficará sempre de fora do nosso discurso (simbólico). Com isso, teremos de nos contentar em encontrar a melhor representação possível do nosso mundo (por isso a IA também erra…). Daria até para dizer que o grande outro (sistema de coleta de dados) também é partido, pois depende que quem o programou e como os dados são coletados (algo vai ficar de fora…). Então, assim como uma comunicação humana, quem fala, não fala tudo o que quer dizer e, quem escuta, não entende tudo que foi falado. Assim, temos de nos contentar com apenas o melhor “Mundo das ideias” de conseguimos encontrar. Então, o tagueamento não está morto, mas está evoluindo pra algo bem mais interessante.