Emprestei este grafo do site : http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1415-71282021000100013 só até ter tempo de desenhar o meu. Como é bastante genérico, vai facilitar para eu começar a explica-lo.
Bom, o primeiro contato que tive com este grafo foi no livro “Escritos” de Lacan. Pra mim, foi um exercício inútil de leitura e não entendi absolutamente nada. Só fui começar a entender na aula do Jonas Boni, na especialização em psicanálise.
Agora, a idéia é ajustar este gráfico até que ele comece a fazer sentido. Para isso, vou direto à fonte. Ou seja, vou usar como base o seminário numero 6 de Lacan. Onde, logo no início, ele já apresenta este grafo e vai tentando explica-lo no decorrer do seminário.
Bom, por que o grafo de Lacan é tão confuso? Eu não encontrei na literatura ( e se alguém souber destas explicações e quiser me passar nos comentário, vai ser ótimo 😁) qualquer fonte de referência que Lacan tenha usado para, a partir disso, desenhar seu grafo. A impressão que dá é que ele simplesmente assumiu que bolinhas ligadas por linhas são grafos. E, a partir dali, atribuiu um monte de significados a cada elemento do grafo para auxiliar na descrição de sua teoria. Pra mim, este é o maior problema para entender o significado destes desenhos. Como o próprio Lacan disse, um significante (bolinhas e linhas) podem ter diversos significados, e isso varia de pessoa pra pessoa, cultura pra cultura, sem uma definição clara do que cada símbolo representa, cada pessoa pode ter a sua própria interpretação do que Lacan quis dizer no grafo. Por isso, a primeira coisa que vou fazer é deixar claro o que EU entendo destes símbolos gráficos. Acredito que isso vai facilitar para que eu possa expressar o entendimento que tenho do que Lacan quis dizer no dele.
O importante aqui é que existe uma relação clara de que, o estado (bolinha) representa algo substantivo e as setas representam um movimento/ação que leva o “Eu” de um estado para o Outro. Por enquanto, este grafo ainda está bastante pobre, por exemplo, não sabemos qual é o início ou fim. Não sabemos se o Eu começa confuso e depois fica esclarecido ou vice versa. No texto de Lacan, ele indica que várias coisas acontecem ao mesmo tempo, ou seja, mesmo sem indicação visual alguma, o grafo tem múltiplos estados iniciais e caminhos que acontecem em paralelo. Da forma que está, parece que cada caminho colabora com algo diferente para o desfecho do grafo (que não tem indicado em lugar algum qual seria este desfecho ou conclusão…). Então, vamos trazer estes significantes de Início e Fim para o nosso grafo:
Prontinho, agora podemos representar ( e eu não estou tirando isso da minha cabeça, é assim que desenhamos grafos há décadas em análise de sistemas computacionais) os estados iniciais e finais do grafo. O inicial é uma bolinha com uma seta desconectada de outros estados e o final é um estado marcado com um circulo externo.
Assim, se eu quiser dizer que “nasci” confuso e depois me tornei esclarecido, poderia desenhar da seguinte forma:
Pronto, com isso já temos os elementos básicos para poder rever o grafo que foi proposto por Lacan e, com alguma sorte, entende-lo.
Na figura 1, vemos o grafo completo, como foi proposto por Lacan. Na realidade, em sua própria explicação, ele o divide em parte inferior e superior, e demonstra várias etapas para a sua criação. Então, vamos fazer o mesmo. Vamos iniciar estudando a parte inferior do grafo:
Na primeira etapa para desenhar o grafo, o objetivo é demonstrar como um sujeito existente como massa de carne e ossos (sem significantes), passa a ser um sujeito de significante, que pode se expressar para os outros. Pra mim, isso tenta mostrar o caminho pelo qual um “incômodo” consegue ser traduzido em palavras. Uso aqui a palavra incômodo como algo genérico que seria a causa para disparar algum processo psíquico. Algo que, por si só, não consegue ser nomeado. Daí vem a busca de significado, que vai ativar o sistema simbólico para encontrar na linguagem (O grande Outro) uma sentença que o representa.
Bom, vamos desenhar então. Aqui está o grafo original de Lacan para esta idéia e o meu simplificado (espero…):
O que Lacan desejava aqui era demonstrar a idéia de como um sujeito passa de um mundo sem comunicação/significantes para um mundo onde consegue se expressar. Para isso, iniciamos com dois grafos que se intersectam. O grafo Δ -> 🧐 mostra o aparecimento do incômodo sem forma ou significado “Δ” que vai obter significado ao passar pela cadeia de significantes (grafo S -> S’). Ou seja, para sair do incômodo (“dor de barriga”) e chegar na frase (“estou com vontade de comer cachorro quente”), foi necessário que um processo inconsciente tomasse cabo para avaliar todos os sentidos da pessoa e todas as formações de significantes possíveis na Linguagem para que então, o significado mais apropriado fosse escolhido.
Neste novo gráfico, tento manter o máximo do original. Apenas indicando claramente onde cada grafo começa e termina. No entanto, eu alterno a direção do sujeito sem expressão para o de significante. Por algum motivo, Lacan desenha este grafo da direita para a esquerda. Isso deixa o grafo pouco intuitivo. Como na cultura ocidental a norma de escrita é da esquerda para a direita, um leitor desavisado pode imaginar que o sujeito dividido (de significante) é que está “involuindo” para o sem significado… deixando o grafo mais confuso do que deveria. Por este motivo, eu também alterei esta ordem no grafo alternativo.
Pra mim, uma representação ainda mais expressiva seria:
O Δ seria o sujeito sem significante de Lacan. O 🧐 seria o sujeito de significante. Eles estão separados pela linha tracejada que indica dois momentos, o momento em que o desejo sem nome apareceu (Incômodo) e gerou a necessidade da “Busca de Significante”. A Busca leva à necessidade de processar todo o inconsciente e contexto que estão registrados na memória através da Linguagem (Grande Outro) e que, quando uma frase específica é escolhida (S’), aparece o ponto de Basta, onde o, agora, sujeito da linguagem consegue expressar qual é o seu incômodo para o mundo externo.
Para terminar, vamos a um exemplo:
Espero que tenha ficado mais simples e ilustrativo que os originais do Lacan. Se tiverem alguma crítica e/ou sugestão, por favor, envie nos comentários.