OK, hoje não estou com muita cabeça pra pensar muito nem chegar a conclusões. Então, vou falar sobre a coisa menos conclusiva que conheço e mesmo assim, um dos assuntos mais interessantes sobre o qual já li.
Como comentei no último post, estudei este conceito mais a fundo nos livros do Jung. Até já havia escutado a palavra sincronicidade em um curso de meditação, mas nunca soube muito bem do que estavam falando, até ler o livrinho de Jung específico sobre o assunto.
Engraçado que algumas vezes vejo o pessoal comentando que Jung provou que existia a sincronicidade. Na realidade, não é bem assim. O que ele mostrou foi que existem sequências de eventos tão estranhas e tão raras, que merecem ser estudadas no futuro, quando novas tecnologias permitirem o seu estudo.
Acho que o maior problema da psicanálise é justamente a falta de instrumentos científicos. E talvez nunca venham a existir. Como seria possível olhar dentro do inconsciente da pessoa e ver se a pessoa realmente quer dizer o que está contando? Como avaliar o grau de felicidade exato de uma pessoa e comparar com o de outra? Como saber se a pessoa teve alguma ajuda do Universo quando ganhou a Mega-Sena? Tudo isso hoje é “medido” através de escalas em que o próprio assunto de estudo se avalia e expressa seu sentimento. Ou seja, extremamente subjetivo e ambíguo.
A Sincronicidade é mais uma destas coisas malucas que a gente pode dizer : “Não acredito em fantasmas, mas que eles existem, existem!”.
Então, o modelo básico que Jung tentou descrever foi que determinadas “coincidências” são tão raras, mas tão raras que precisam ter algum significado.
Por exemplo, e o exemplo precisa ser longo mesmo pra que cada probabilidade seja multiplicada e aí apareça a improbabilidade do fato:
Tudo começa com você sem dinheiro e precisando pagar uma cirurgia caríssima pra sua mãe. Você está amargurado pois não tem de onde tirar o dinheiro. Aí, aparece o seu amigo e te pede dinheiro emprestado… Você está quebrado, mas, mesmo assim, resolve ajudar e empresta o dinheiro pra ele. Seu amigo usa o dinheiro pra pagar o que deve no bar da esquina; o dono do bar não tinha troco e perguntou se ele queria receber o troco em balinhas, ele aceitou. No dia seguinte, seu amigo foi na casa da namorada e levou as balinhas para o irmãzinho dela. O menininho tinha ido na semana anterior na casa do avô e tinha ganhado um bilhete de loteria como pagamento por cortar a grama do quintal. O menininho ficou tão alegre com as balinhas que te deu um abraço e te “pagou” as balinhas com o bilhete que tinha ganhado. Aí, quando seu amigo estava voltando pra casa, te viu e veio bater papo. Contou pra você das balinhas e do bilhete de loteria. E disse: “Bom, já que me pagaram com este bilhete, está aqui, fica com ele, um adiantamento do que me emprestou ontem!”. Te deu o bilhete e saiu dando risada. Na manhã seguinte acontece o sorteio e você descobre que o bilhete foi premiado!!! Você ficou milionário!!! Já pode pagar, sem esforço, a cirurgia da sua mãe…
A probabilidade de todos estes eventos acontecerem para trazer o bilhete de loteria premiado para a sua mão é tão infinitesimal, que muitos diriam que seria impossível. Mas, acontece. Este é o tipo de coincidência que impressionou tanto Jung que fez com que ele incluísse o assunto em sua obra. Seria o Universo se comunicando ou apenas aleatoriedade? Não temos ferramentas para afirmar nem um nem outro, vale o que você gostar mais 🙃
Agora, acho que Jung nem teria falado sobre isso se não fosse por causa de Joseph Banks Rhine. Rhine foi o primeiro a tentar usar o método científico para estudar o Paranormal.
Pois é, agora vocês acreditam que o Jung era meio hippie né 😁. Bom, a pesquisa que inspirou tudo foi uma daquelas que dariam um filme. Rhine fazia experimentos com universitários. Neste caso específico, queria testar a percepção extra-sensorial dos estudantes. Pegou um deck de cartas e os universitários tinham de adivinhar qual seria a figura que estaria na carta retirada do topo do monte de cartas. Calculou a probabilidade de acerto, e a maioria dos estudantes acertou/errou de acordo com o esperado.
Ele continuou com os experimentos até achar a um estudante que havia acertado mais de 90% das cartas tiradas do baralho. A probabilidade disso acontecer era tão pequena que poderia ser considerada impossível. Este resultado, por si só, já seria impressionante. Mas o experimento continuou…
Acharam que o estudante poderia estar recebendo alguma dica da pessoa que estava tirando as cartas do monte. Então, colocaram os dois em salas separadas… índice de acerto ainda superior a 90%.
Pensaram: “Vai que é a distância, ele está captando algum tique da pessoa na frente dele ou algo assim”. Fizeram um teste por telefone, a dezenas de quilômetros de distância… índice de mais de 90% de acerto.
Testaram o fator tempo, pediram pro estudante adivinhar qual cartas seriam tiradas do deck no dia seguinte. Mais de 90% de acerto.
E continuaram com muitos outros cenários. Quem se interessar pode dar uma olhadinha no livrinho de Sincronicidade ou procurar pelo experimento de Rhine na internet.
Dá pra chamar isso de científico? A metodologia foi bem detalhada, bem descritiva, reportada de forma acurada. No entanto, ninguém nunca conseguiu dizer como o estudante conseguiu acertar tanto e nem replicar o experimento com outra pessoa. De qualquer forma, isso impressionou tanto Jung que o motivou a abordar o tema da Sincronicidade.
Como eu disse, ele não provou nada. Não tem como dizer que a sincronicidade existe ou não. Na maioria das vezes, você acaba vendo a sincronicidade somente após o fato. Naquela hora que você olha pra tudo que aconteceu na sua vida e tem aquela sacada: Hummm, foi por issso !!
Eu era extremamente cético quanto a este tema, mas tenho percebido tanta sincronicidade na minha vida, que já não sei mais o que pensar a respeito.
O post de hoje vai terminar meio no “ar” mesmo. Eu realmente não tenho nada de concreto pra defender ou não a sincronicidade, mas posso dizer que ela dá uma história sensacional, daquelas que dá frio na barriga quando alguém te conta 🫢. Como eu disse pra vocês no começo, “Eu não acredito em fantasmas, mas que eles existem, existem 👻!!”.